Especiaria

17:52
À espera submarina
do peixe - dos - terremotos,
ela sonha seus versos toscos:

alegorias escondidas
em margaridas sulferinas
e antigos signos mortos.

Lá no fundo do barco,
nos porões do que foi,
estão seus olhos de ontem.

Esses velhos marinheiros
repetem o fog sob os cílios.

Incrustrados,
não reconhecem cenário,
pátria, ilha ou parada,
nem quando vêem os filhos.

Com lentidão de sereia,
a mulher que desveste o espelho
à boca soma acalantos.

E guarda que nela se afoguem
outros lábios vermelhos,
inchados
de tanto prazer e pranto.


(poema vencedor do primeiro lugar no
 Prêmio Cidadão de Poesia de 2009)